Quatro capas de Ababol: a microexposição que celebra quatro artistas em Múrcia

  • O Arquivo Municipal de Múrcia acolhe uma microexposição centrada em quatro escritores ligados a Ababol.
  • As obras de María Luisa Martínez León foram capas do suplemento entre 2022 e 2025.
  • Manuscritos, primeiras edições, imprensa histórica e correspondência estão em exposição.
  • Aberto de 3 a 20 de outubro, de segunda a sexta-feira, com entrada gratuita.

Exposição dedicada a quatro escritores de Ababol

O Arquivo Municipal de Múrcia apresenta a microexposição intitulada "Quatro Capas de Ábabol", um projeto que reúne retratos e materiais inéditos sobre quatro grandes nomes da literatura: Gabriela Mistral, María Zambrano, Javier Marías e Claudio MagrisAs peças centrais são retratos da artista murciana María Luisa Martínez León, publicados como capas do suplemento Ababol do jornal La Verdad entre 2022 e 2025.

A exposição combina arte plástica com documentos de arquivo: manuscritos, primeiras edições, livros dedicados e imprensa histórica de fundos municipais e instituições colaboradoras. Com curadoria de Manuel Madrid e assessoria de María José Hernández Almela e Elena Ponce, a proposta dialoga com o Feira do Livro de Múrcia e destaca o fio condutor que liga a cidade a esses quatro autores.

Uma seleção que une arte e memória

A inauguração contou com a presença do Conselheiro da Cultura e Identidade, Diego Avilés, e o diretor do Arquivo, Maria José Almela, juntamente com representantes do mundo acadêmico e museológico. A própria artista, María Luisa Martínez León, participou de um evento que destacou o papel do Arquivo como guardião da memória de Múrcia e sua conexão com ababol, uma revista semanal de artes, literatura e ciências de La Verdad.

O passeio se concentra em quatro retratos que estamparam a capa do suplemento e em um conjunto de peças complementares que fornecem contexto biográfico e editorial. Entre elas, Cartas pessoais, recortes de imprensa, volumes anotados e cópias dedicadas, que nos permitem ler a trajetória de cada autor murciano e com Múrcia como referência.

María Zambrano: pensamento vivo e vestígios murcianos

A seção dedicada a Zambrano reúne materiais essenciais que explicam sua relação com o pintor e escritor murciano. Ramon GayaEstá em exposição o manuscrito de um texto do próprio Gaya sobre filosofia, publicado na ABC, bem como uma catálogo de arte oriental que Zambrano lhe deu e lhe dedicou em Roma no final da década de 1950. Este espaço é completado pelo livro de correspondência "E Assim Nos Entendíamos" (1949-1990), um testemunho de uma amizade intelectual duradoura.

A seleção destaca uma obra que une razão e coração, a partir de títulos como "Rumo ao conhecimento da alma", “O Homem e o Divino” ou “Clareira da Floresta”. Especialistas enfatizaram a mensagem humanística de Zambrano e sua forma de pensar como um exercício de consciência, um legado que a exposição recupera com documentos originais e peças de alto valor simbólico.

Gabriela Mistral: Ecos de uma pioneira vencedora do Prêmio Nobel

O itinerário de Mistral remete à sua presença na imprensa murciana das primeiras décadas do século XX. O Arquivo Municipal conserva textos e poemas publicados em A Verdade (páginas literárias de 1923 e o Suplemento Literário de 1924), além de contribuições para revistas como "Espigas y Azucenas" (1926), "Letras" (1916) e "Ambiente" (1936). Em um único ano, 1924, deixou diversas contribuições que trouxeram para Múrcia o melhor da literatura latino-americana da época.

Junto com sua poesia de livros como "Desolação", “Ternura”, “Tala” ou “Lagar”, a exposição lembra que Mistral foi a primeira pessoa da América Latina a alcançar o Prêmio Nobel de Literatura (1945). Sua voz, celebrada por grandes autores da época, transitava entre o pedagógico, o social e o espiritual, uma sensibilidade que estas páginas murcianas nos permitem redescobrir ao pé do documento.

Claudio Magris: Geografias Culturais e a Ideia de Europa

A seção Magris reúne peças de especial interesse para filólogos e historiadores literários. Destaca uma primeira edição de "O Mito dos Habsburgos na Literatura Austríaca Moderna" (1966) e um exemplar de "O Danúbio", dedicado pelo autor ao Arquivo por ocasião da exposição. Também está em exposição um texto manuscrito, com contribuições do Professor Pedro Luis Ladrón de Guevara.

Doutor honoris causa pela Universidade de Múrcia (2014) e Prêmio Príncipe das Astúrias de Literatura (2004), o escritor triesteense defendeu com frequência uma Europa com maior coerência jurídica e política. Em conversas publicadas no La Verdad, ele explicou sua visão de identidade como matryoshka: camadas que integram o local, o nacional e o continental, perspectiva que articula boa parte de sua obra ensaística.

Javier Marías: cartas, leituras e o enigma do tempo

Entre as peças relacionadas com Marías, destaca-se uma carta digitada Enviada em 2016 de sua casa em Madri ao Professor Antonio Candeloro (UCAM), juntamente com um cartão-postal e vários livros dedicados a ele. Nesta carta, o autor reflete ironicamente sobre sua profissão e sua percepção de sua própria obra, uma perspectiva autocrítica que também permeia seus romances.

Estudiosos como José María Pozuelo Yvancos, Alexis Grohmann, Carmen María López e o próprio Candeloro escreveram em ababol após sua morte em 2022, em uma edição especial ilustrada por Martínez León. A exposição também relembra o universo lúdico de Reino de Redonda, com reconhecimento simbólico como o "Duque de Segunda Mão" concedido a Magris, e foca na presença do tempo como núcleo de sua literatura.

O acidente vascular cerebral de María Luisa Martínez León

Os quatro retratos trazem a assinatura do pintor e escultor murciano Maria Luisa Martínez León, doutor em Belas Artes e professor de desenho técnico e volumétrico. Nessas peças, criadas com diversas técnicas (incluindo caneta esferográfica bicolor no caso de Marías), o artista captura a "presença" de cada artista com um traço enérgico e sensível.

Martínez León pertence a uma família de criadores intimamente ligada a Múrcia: seu pai é o escultor Anastasio Martínez Valcárcel; seu avô, Nicolás Martínez Ramón, assinou o Sagrado Coração de Jesus no monte Monteagudo (1951); e seu bisavô, Anastasio Martínez Hernández, fez o primeiro Cristo de Monteagudo (1926). A autora investiga esse legado em sua tese de doutorado e está trabalhando em um novo monumento para a Base Aérea de Alcantarilla dedicado aos paraquedistas mortos.

Informações práticas

A microexposição pode ser visitada no átrio do Arquivo Municipal de Múrcia, Palácio Almudi, de 3 a 20 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 14h, com entrada gratuita. Esta é uma oportunidade para aprender sobre como as artes visuais interagem com os acervos documentais da cidade.

A colaboração com A Verdade e a participação de profissionais do Arquivo reforçam o caráter informativo da proposta, pensada para leitores, estudantes e curiosos que desejam descobrir esta constelação de autores murcianos e com o apoio dos seus impressões editoriais.

A coleção de retratos, cartas, primeiras edições e imprensa histórica oferece uma visão geral: Quatro autores, uma cidade e um arquivo que os recoloca em circulação, entre a memória, a leitura e o desenho transformado em capa.

Feira do Livro de Múrcia 2025
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