Com 'O Capitão', Susana Martín Gijón regressa à Idade de Ouro escrever um romance policial histórico ambientado em Granada no final do século XVI. A obra entrelaça uma trama policial com uma reconstrução detalhada da cidade, então marcada pelo esplendor artístico após a conquista e pelas tensões sociais que ainda fervilhavam sob a superfície.
O livro já está nas livrarias e, Antes do lançamento, o autor percorreu os principais locais que percorre a trama para compartilhar com leitores e a mídia como a realidade urbana e política da época alimenta o suspense. Este passeio pelos locais icônicos de Granada também serve como um mapa de leitura para uma história que olha para o passado sem perder o ritmo da ficção policial contemporânea.
Enredo e protagonistas
No epicentro da narrativa, Um cadáver aparece no claustro do Convento de São José (Carmelitas Descalças), desencadeando um caso que ameaça a reputação da comunidade. Irmã Ana de Jesús — apelidada de Capitã por seu caráter e determinação — assume com discrição e firmeza a tarefa de proteger suas irmãs e esclarecer o ocorrido.
A seu lado, Irmão João da Cruz (mais tarde São João da Cruz) atua como um aliado essencial. Juntos, eles formam uma dupla investigativa nada convencional, forçada a se mover furtivamente entre a instituição eclesiástica, o sistema de justiça do reino e as antigas rixas da cidade. À medida que a investigação avança, segredos emergem que podem abalar a cidade profundamente. os pilares do cristianismo na Coroa.
O romance, publicado pela Alfaguara, optar por um ritmo de intriga sustentada que convida o leitor a resolver as pontas soltas diante dos próprios protagonistas. Sem abrir mão do contexto histórico, o autor prioriza a tensão narrativa e a representação de personagens com conflitos reconhecíveis, presentes na narrativa. melhores romances policiais.
Granada em 1585: clima social e político
A ação se passa em 1585, Cinco anos depois da Babilônia, 1580, e numa cidade ainda marcada pelas consequências da Reconquista. Ao rico património promovido pelos Reis Católicos sobrepõe-se uma dura realidade: conventos e mosteiros com interiores austeros, um próspero mercado de seda que coexiste com a pobreza e um clima de desconfiança perene.
O eco do Rebelião das Alpujarras (ocorrida uma década e meia antes) ressoa em segundo plano: a pressão sobre os mouriscos e o medo de novas revoltas determinam as relações de poder. A obra explora essa paisagem humana sem cair em anacronismos, mostrando como tensões sociais e religiosas vazamento na investigação.
A justiça real tem a sua sede no Chancelaria Real, na Plaza Nueva (hoje Tribunal Superior de Justiça da Andaluzia). Nas proximidades, havia duas prisões — a superior e a inferior — cujos nomes sobrevivem nas ruas atuais. Dessas celas, os condenados desciam a Rua Zacatín até a Praça Bib-Rambla, onde as execuções atraíam multidões.
Cenários que estruturam a história
Martín Gijón elaborou um roteiro literário pelos espaços reais da cidade. Muitos deles podem ser visitados e servem como pontos de referência para leitura. transformando o romance em uma espécie de guia para entender essa Granada complexa e fascinante.
- Carmen dos Mártires: lugar onde o romance começa e onde Juan de la Cruz foi prior do convento de mesmo nome.
- Convento de São José e Convento dos Carmelitas Descalços: núcleo espiritual e cena do crime inicial.
- Mosteiro de San Jerónimo: o repouso do Grande Capitão, com um neto homônimo que ganha peso na trama.
- Portão da Romã e Colina Gomérez: trânsito obrigatório em direção à Alhambra e travessia de personagens fora dos horários de pico.
- Chancelaria Real e Plaza Nueva: epicentro do poder judicial do reino na cidade.
- Casa dos Tiros (bloco dourado): um espaço de debates onde brilham figuras como Juan Latino.
Nesse mosaico também aparece o O filho de Guevara, referência ao poder judiciário da época, e a figura de João Latino, uma figura fundamental e muitas vezes esquecida, cuja presença ajuda a iluminar a vida intelectual e as discriminações da época.
Documentação, estilo e influências
Para articular este trabalho, o autor fez uma processo de documentação de dois anos com visitas recorrentes a Granada, o que se traduz numa ambientação precisa: costumes, hierarquias, arquitetura e toponímia aparecem naturalmente, sem abrandar a dinâmica da história.
Formada em Direito antes de sua carreira literária, Martín Gijón transita com desenvoltura o penal e o processual, e transfere essa perspectiva para o romance: como a investigação é conduzida, o que é ocultado e como a punição é administrada. Há também ecos de O Nome da Rosa, de Umberto Eco para o mundo enclausurado e seus segredos, embora o foco aqui seja um convento feminino, destacando espaços de autonomia e cultura para elas.
O autor defende uma concepção do romance policial com vocação para reclamação social: Ela diverte, nos impulsiona a resolver o quebra-cabeça e, ao mesmo tempo, aponta rachaduras no sistema que repercutem até hoje. Em "La Capitana", isso se reflete no olhar sobre a desigualdade, a violência institucional e a posição das mulheres em uma rede de poder, temas recorrentes na obra. melhores leituras de romances policiais e intrigantes.
Links para seus trabalhos anteriores e carreira
'La Capitana' dialoga com 'La Babilonia, 1580' ao situar sua ação cinco anos depois, trocando a opulenta Sevilha por uma Granada mais dura e conventual. Os cenários contrastantes permitem ao autor explorar outro aspecto do mesmo período histórico e mostrar como a intriga criminosa se adapta a cada cidade.
Martín Gijón é conhecido por sua Trilogia do Caminho Vargas —'Progeny', 'Species' e 'Planet' — e por títulos como 'More than Bodies', 'From Eternity', 'Castaways' ou 'Wine and Gunpowder'. Seu trabalho foi reconhecido com prêmios como o Prêmio Cordoblack, Cubelles Noir, Granada Noir e a Avuelapluma das Letras. Seus livros alcançaram Argentina, México e Colômbia, foram traduzidos para o italiano e estão em andamento negociações para seu lançamento no mercado francês.
Sem alarde nem fogos de artifício, o romance propõe uma viagem a Granada no final do século XVI, na qual a investigação criminal funciona como um fio condutor para vislumbrar seu passado urbano, político e espiritual. Em meio a claustros, tribunais e ruas íngremes, o autor oferece uma história que também pode ser lida como um passeio pela cidade: uma ferramenta útil para viajantes curiosos e granadinos que desejam redescobrir sua história por meio da ficção.