Leonardo Padura apresenta Morrendo na Areia

  • Apresentação de Morrer na Areia na Livraria Gil (Santander), com entrada gratuita e conversa com Fernando García del Río.
  • O romance acompanha Rodolfo, marcado por Angola e pelo parricídio cometido por seu irmão Geni, cuja libertação reabre velhas feridas.
  • Padura aborda a Cuba contemporânea: precariedade, desigualdade, apagões e estratégias de sobrevivência como assistência de parentes no exterior.
  • O autor, vencedor do Prêmio Princesa das Astúrias de Literatura, defende a literatura como memória e mantém suas raízes em Havana.

Leonardo Padura em apresentação literária

O escritor cubano Leonardo Padura retorna à linha de frente das notícias com Morra na arena, uma obra que retrata meio século de vida cubana Da intimidade de uma família em suspense. Em sua turnê promocional pela Espanha, o autor compartilhou as chaves de um livro que marca o pulso de uma geração que, após a aposentadoria, descobre que vive com menos do que o prometido.

A história gira em torno de Rodolfo, um homem atravessado pelo trauma da guerra de Angola e pela assassinato de seu pai pelas mãos de seu irmão GeniA iminente libertação deste último, vítima de uma doença terminal, obriga-o a preparar o regresso à casa da família, reativando rancores, silêncios e segredos que pareciam enterrados. Padura aborda este conflito privado para lançar luz sobre Cuba hoje com um olhar sereno, observador e despretensioso.

Apresentação e encontro com leitores

Apresentação do romance de Leonardo Padura

apresentando Morra na arena em Santander acontecerá no Livraria Gil, na Praça do Pombo, na quinta-feira, 11 de setembro, às 19h, com entrada gratuita até a lotação máxima. Este é um evento pensado para o público diálogo direto com o público, uma marca registrada das aparições do autor.

Padura vai falar com Fernando García del Río, jornalista e editora, sobre o contexto histórico da obra, seus personagens e a universo narrativo que ele construiu ao longo de sua carreira. A atividade se enquadra no calendário de eventos literários que a editora Tusquets promove em território espanhol.

Paralelamente a isso pauta de apresentação, o escritor manteve encontros com a imprensa em Madrid, onde explicou que o romance nasceu da vontade de contar a destino de sua geração e observar como essa jornada pessoal e coletiva se condensa em uma semana de tensão familiar.

Segundo o autor, o livro é uma crônica da deterioração social que muitos vivenciam na ilha e, ao mesmo tempo, uma história de amor maduro, ressentimento e anseios, em que os personagens exploram a possibilidade — e o custo — do perdão.

Enredo e personagens

Leonardo Padura, autor cubano

Rodolfo, recém-aposentado, recebe a notícia de que seu irmão Geni, apelidado Cavalo Louco, será libertado da prisão devido a uma doença incurável e retornará à casa onde ocorreu o crime. Essa espera, narrada em apenas alguns dias, desencadeia uma revisão da memória familiar e das cicatrizes deixadas pela violência não resolvida.

Nora, ex-cunhada de Rodolfo e amor latente da juventude, recupera uma intimidade inesperada com ele. Ambos não estão na miséria mais aguda porque têm o que muitos em Cuba chamam de FÉ: família no exterior que envia ajuda. A chegada de Aitana, filha de Rodolfo, e o surgimento de um jovem que se fez sozinho em uma Havana desigual servem como contrapeso moral e prático em um ambiente frágil.

Padura transforma parricídio em motor dramático e, ao mesmo tempo, uma alegoria sobre a responsabilidade histórica e os efeitos do medo na vida cotidiana. O romance evita a psicologia enfática e prefere a atmosferas e silêncios, onde cada gesto conta.

O escritor demonstra mais uma vez a sua perícia no suspense: a tensão não nasce tanto do “o quê”, mas do “como” e do “porquê”, da maneira como o público invade o privado colonizar uma casa, um corredor, uma conversa interrompida.

Neste mapa emocional, a redenção ocupa um lugar central. Existem diferentes caminhos para esse alívio — e nem sempre simultâneos — porque O perdão não apaga, mas abre a possibilidade de seguir em frente com menos carga.

Cuba, entre a escassez e a desigualdade

Leonardo Padura na conversa literária

Padura descreveu a situação atual do país como uma Salve-se quem puder que coexiste com a promessa do bem comum. Em seu diagnóstico, a ascensão dos pequenos negócios trouxe vislumbres de riqueza junto com grandes bolsões de pobreza, com um aumento de roubos e violência que o romance observa do âmbito da vida cotidiana.

Para ilustrar a precariedade, o autor compara salários e preços: uma a aposentadoria gira em torno de 2.000 pesos e trinta ovos podem custar cerca de 3.000. A equação é inviável para muitos e força estratégias de sobrevivência, como remessas familiares ou empregos informais.

A realidade, afirma ele, entra sorrateiramente sem pedir permissão: na forma de apagões, de remédios que não chegam, de filas intermináveis. O romance registra esse gotejamento com a perspectiva de uma testemunha: não prega, apontar e documentar através de objetos e cenas.

O escritor também destaca o papel da memória: a literatura é uma reservatório contra o esquecimento Em tempos de narrativas manipuladas. Nesse sentido, alude à "parametrização" do final da década de 1970, quando filtros eram necessários para representar a cultura cubana, período que marcou gerações de autores e leitores.

Apesar das dificuldades, Padura mantém suas raízes em Havana. Ele diz que se sente enraizado em seu bairro e em sua casa sempre e não pensa em deixar a ilha, convencido de que contar a história a partir do lugar proporciona uma autenticidade que não pode ser alcançada à distância.

Processo, recepção e trajetória

Sessão de autógrafos de Leonardo Padura

No plano editorial, o autor relata que a circulação da obra em Cuba segue canais não oficiais: dois dias depois de chegar às livrarias Já havia cópias digitais piratas sendo lidas na ilha. E lembre-se que alguns de seus títulos não são publicados lá, com a explicação recorrente de que falta de papel.

A carreira de Padura está ligada a Tusquets desde "Máscaras" abriu-lhe portas em Espanha. É autor da série de Detetive Mario Conde e romances como O homem que amava os cachorros o Como poeira ao vento, bem como ensaios e crônicas. Recebeu, entre outros, o Prêmio Princesa das Astúrias de Literatura e reconhecimentos como o Pepe Carvalho.

En Morra na arena, o artesanato é evidente na atenção aos detalhes: a geladeira vazia, uma campainha sem promessas, uma janela com vista para um bairro envelhecido. Isso sociologia da vida cotidiana É a marca registrada de um narrador que usa a polícia como ferramenta para ponderar o presente e seus dilemas.

O gosto residual do romance é amargo, mas não cínico. Surge a ideia de que a redenção é possível e o perdão, necessário, mesmo quando as condições materiais são difíceis. Com uma prosa áspera e contida, Padura confronta o leitor com uma pergunta insistente: como continuar a viver com o que não há solução agora mesmo.

O que pulsa por trás de cada página é um equilíbrio geracional e um retrato de um país que rejeita slogans. Um autor que permanece em sua cidade, uma família que enfrenta sua memória mais difícil e um ambiente marcado pela privação pintam um quadro que convida você a olhar para frente agora fale sem atalhos.

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